quinta-feira, junho 25, 2009

Discotecar (ou 29 e um dia)

Discotecar.:


Isso tudo é uma grande tolice, todas as vezes – Diria satisfeito o tio Carlos.



Não acordou exatamente diferente. Não acordou com um humor especial, tinha pressa, só isso. Abriu as cortinas enormes que comprou uns dias antes, brancas e transparentes, quase um véu. Tomou banho pensando em mil coisas, que deveriam acontecer naquele dia, mais ou menos como sempre. Outras exatamente como sempre. No metrô leu o último do Nooteboom, se coçando por dentro, mal notando o mundo lotado e barulhento em volta. Encontra um conhecido e já solta “notou alguma coisa diferente em mim?”, ele engole seco e procura com os olhos um em cada direção, até ameaça esticar o braço para sentir a diferença mas logo desiste. Abre a boca mesmo sem nada dentro ainda e ela o interrompe com um riso largo e satisfeito “tô brincando, eu não faria uma perguntar dessas a essa hora” e sai mandando beijo e rindo da cara dele.


O dia passa voando, a noite entra, o telefone dá uma trégua sem antes marcar uma balada com as amigas de sempre. Volta pra casa, banho, música, comida rápida, algumas providências, uma olhada no relógio, uma no espelho e tchau.


Quase meia noite e nada se transformou ainda, ouve Killers meio bored até que ouve uma voz familiar num intervalo riscado do disco. Era com ela, ri de nervoso, de ansiedade, de um monte de cócegas estranhas vindas dos olhos dos outros mas também da barriga. Pega na bolsa um Ipod, arregala o olho pra amiga como quem diz “tu podia ter me avisado”, as pessoas de pé na pista quase reclamam, se não fosse hoje reclamariam, ela olha o computador, as pickups e manda ver, não sabe se precisa soltar a mão do Klimt pra pegar a do Pollock, deixar p Chash pelo Interpol ou o Kerouak pelo Rubens Paiva, ou pelo Kundera, o Smiths, o Deftones, o Depeche Mode pelo Radiohead, pelo cara do blog vermelho ou pela Spalding tocando Hancock, ela passeia livre tocando as mãos de até ali e vendo a dança continuar e as referências tendo filhos ou morrendo, vendo as chances e areias correndo ao largo duma avenida alegre e agora mais leve, a cada riff, a cada refrão, contralto, solo solta um pesar, um medo, uma insegurança, um pesar que vira suor na testa dos outros, da sua. Olha pro relógio e já é hora de descer, “How soon is now” pergunta e sai com um riso largo e satisfeito.




O que deveria ser discotecar? Veja aqui, fale aqui



P.s.: isso não é uma referência a ninguém, não é inspirado em ninguém e não tem nada de pessoal com ninguém.

3 comentários:

tuca disse...

abaixo auto-censura!

Kat Marques disse...

hey!!!

onde posso encontrar seu telefone?
manda me!

love
kat

Ariane Mieco Sugayama disse...

oi Pedro, legal o miniconto.. vou ler com mais calma o restante...
abço