quinta-feira, dezembro 20, 2012

24.09.2006 e as paranóias daqueles tempos.


Um pensamento, um único pensamento momentâneo e aparentemente inofensivo pode ser aquele que vai mudar tudo, um questionamento, uma pessoa que você encontra na rua, um lugar que te vem à memória, uma música, um palavra, um cheiro, uma sensação, é tanta coisa que não dá pra descrever, não dá pra tentar juntar tudo e, sobretudo, não dá pra manter as rédeas sobre tudo o que se passa entre nossas orelhas.

Tenho vivido dias muito tensos, cheios de vida e de morte, facas, aranhas, pessoas queridas, lugares que me trazem lembranças, situações que me trazem lembranças, lembranças que me alegram, outras nem tanto, garrafas, louça pra lavar, coisas pra pagar, procurar, procurar, procurar, pôr os pés no chão e deixar a mente voar (Where is my mind?) quando necessário, ver gente, fugir de gente, querer e não conseguir, chorar, chorar, socar, chutar, chorar, doer, doer, doer, o sofá de couro branco, pés de metal, as taças de água, o churrasco, a fome, o jejum sem fome, o vazio, o se encontrar, o preencher, procurar, procurar, os erros, a burrada, a escolha, a decisão, o silêncio, o método alemão, o silêncio...

Conviver, fugir, estar, silenciar, correr, caminhar, jogar bola, não jogar, perder, perder, perder, conviver, superar, chorar, muitas idéias, outras propostas, capacidade, duvidar de si, corrigir o outro, querer, querer, matar, morrer um pouco, querer abraçar o mundo, fugir daqui, sair daqui, desespero, promessas vãs, credito, descrédito, vergonha, mentira, dadaísmo? Não, definitivamente, realismo fantástico, ilha da fantasia e da pizza, da garoa, da miséria, da fome, do descaminho, muita gente, periferia interminável, centro belo e sujo, e o resto? Eu quero, tenho medo mas quero, pior que isso não deve ser.

Os jornais, as revistas, os famosos, os amigos, perdi a peça de um amigo, o show de outro, vou à exposição de um, mas e a outra? É longe, fora daqui, queria ir, mas o meu dono não deixa, algumas dependências são eternas, algumas forças indestrutíveis, algumas barreiras intransponíveis, alguns segundos irretocáveis e outros quando não se sabe o que dizer são f... Tente alegar embriaguez, nervosismo, o que seja, é tudo verdade mas é tudo desculpinha, a explicação não merece ser proferida, está feito, desfeito, dito, pensado, foi, faz diferente ou corre e se afunda de vez, mas não se explique, um dia terei essa sabedoria.

Quero um lugar onde eu não seja refém da verdade!!!! Refém do passado, dos dedos em riste, das risadas, da pena, do julgo, dos atos, das palavras que eu disse, mas já não acredito, das que eu acredito mas não quero usar, das que eu ouço e não quero acreditar, ou não quero retrucar, ou não quero ouvir.

Não quero mais acreditar em profetas pessimistas, quero acreditar na evolução, constante. Quero acreditar na capacidade de perdoar, aprender, superar-se, quero acreditar na capacidade de acreditar, acreditar no suspiro, no gemido, no cheiro, nos olhos, quero acreditar no que é dito enquanto a boca cala, no que é dito sem permissão, quero me permitir falar, me permitir terminar a frase, me permitir atender ao telefone ou mesmo a permissão de desligar, quero ser mais livre de mim e das minhas próprias castrações, e das que são impostas.

Que dias muito loucos estes, como hoje quando fiquei cerca de dez minutos completamente sozinho no ponto de ônibus de uma rua deserta encarando uma pomba perneta, ela me olhava, se coçava e dava um pulo, como um Saci, eu a olhava, dava um trago, olhava de novo, dava mais um trago, tentava desviar o olhar, mas não dava, a porra da pomba perneta ficou me encarando até o ônibus chegar. Entrei no ônibus ouvindo Oasis e fiquei pensando no porque de a pomba ficar me encarando... Alguém tem alguma ideia?

Preciso urgentemente de uma praia, preciso ver o mar, na verdade preciso sair dessa cidade, não importa muito pra onde ir, mas a preferência é sempre uma praia, de preferência uma bem calma, bem vazia, bem quieta, um daqueles lugares pra você se sentar na areia e ouve apenas o barulho de uma onda, depois outra, depois outra, e outra.

Dirigir a vida sem carta, sem recomendações, viajar sem chinelos, sob a névoa que esconde a rua, e o céu que anda cinza de sono, ou chumbo depois das seis.


Amém!


Ouvindo:

Body Count – Winners loses.
Pearl Jam – Once, Oceans, Better Man.
Pixies – Where is my mind, Wave of Mutilation, Hey, Letter to Memphis.
Deftones – Root, Linus, Simple Man (Lynird Skynird cover), Digital Bath, Change (In the house of files)
Slipknot – Vermilion, pt. 2, Wait and bleed
Stone Temple Pilots – Creep, Big Empty, Trippin’ On a hole in the paper
The Cure – Lullaby, A Forest, Close to me, A night like This, Charlotte Sometimes
Wolfmother – The white unicorn, Love train
Tool – Spasm, Merkaba, Vicarious, Cold and Ugly, Vacant, Push it
Oasis – Be here now, My big mouth, Magic Pie, The girl in the dirty shirt, D’You know what I mean?, Champagne Supernova.
Dominatrix – 14th July