quarta-feira, junho 27, 2007

Errata...

A crisma lá em Minas não foi em Carmo de Minas, foi em Dom Viçoso.

Desocupado e insone, pensando no bem da cidade...

Zona Sul é o invés,
O stress concentrado,
Um coração partido por metro quadrado.

(...)

Zona Sul é o cotidiano difícil,
Mantenha o proceder,
Se não manter ta fudido...



O que você faz quando você não tem o que fazer mas também não consegue dormir? Tem acontecido bastante comigo e eu tenho algumas manias para passar esse tempo ocioso, a mais freqüente tem sido o Freecel (preciso apagar essa merda do meu computador!), porém muitas vezes fico ouvindo música, tomando vinho, lendo, normalmente tudo ao mesmo tempo mesmo. Porém dia desses parei para pensar nos problemas da cidade, e comecei a pensar em soluções para estes. Não sou urbanista nem nada, mas como o sono não vinha acabei escrevendo isso que está aí embaixo. Eu tinha passado pela Teodoro no dia que escrevi isso, acho que por isso resolvi começar por esse tema.

Plano para incentivar a formalização do comércio na cidade de São Paulo.

Criar a Secretaria Especial de Incentivo à Formalização de Micro e Pequenas Empresas que visa oferecer gratuitamente aos camelôs e ambulantes (que devem ser cadastrados) assessoria jurídica, contábil e administrativa de graça via ONGs, professores e alunos das universidades públicas, além de pessoal contratado, para que estes montem suas lojas/oficinas.
Oferecer descontos tributários – isenção de impostos por 10 anos por exemplo (como se dá às grandes indústrias para que elas se instalem aqui ou ali, vide caso da fábrica da Ford, que recebeu isenção de impostos como IPI e IPTU por 15 anos para instalar a fábrica na Bahia, por um margem limitada de novos empregos, especialistas dizem que cada emprego criado nessa fábrica custou cerca de 1.5 milhão de dólares em isenções fiscais).
Listar os prédios públicos inativos ou com potencial subutilizado, além de prédios abandonados ou com dividas impagáveis de impostos passiveis de desapropriação e oferecer o espaço nesses prédios a estes novos empresários a um aluguel subsidiado. Fazer uso misto desses prédios, usando-os também como moradia para os ambulantes sem teto. Dar vantagens a estas novas empresas financiando o processo pelo qual esta nova empresa possa se tornar um representante oficial/prioritário de marcas e produtos detentores de marcas protegidas por copiright. Os prédios têm que receber a infra-estrutura necessária ao funcionamento das lojas, financiados pela União e pelas próprias empresas que têm o objetivo e interesse de acabar com a pirataria, por meio da Fiesp, AMCHAM, BRITCHAM e por aquelas associações gringas de proteção à propriedade intelectual (se eles querem acabar com a pirataria eles precisam se coçar também).

Passar uma lei tornando ilegal o comércio ambulante num prazo de 4 anos para quem não tiver as adequações necessárias (as oferecidas no programa). Depois de 4 anos a secretaria passa de “incentivo à legalização” para abertura de novas empresas e fiscalização / punição do comércio ambulante.

Criar um padrão e licenciar para estes novos empresários quiosques para a venda de lanches e balas nos pontos de ônibus, estações de metrô e locais onde estes já atuam, pois se eles estão lá é porque existe uma demanda, e ela vai continuar a ser explorada, legal ou ilegalmente.
Fazer uma campanha com a população esclarecendo porque é melhor comprar dos vendedores cadastrados e não dos ambulantes ainda ilegais, explicar que os impostos que eles passaram a pagar vão virar melhorias na vida deles próprios, explicar ainda que com isso eles estarão deixando a cidade mais bonita e com uma melhor qualidade de vida para todos.

Combater a pitataria e a falsificação nas fontes produtoras e distribuidoras.


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Não ficou lindo, mas já é melhor do que reclamar das calçadas cheias da Teodoro ou do Largo 13.
Ouvindo:
POD: Southtown
Chico Buarque – Atrás da porta

sábado, junho 09, 2007

Pé na estrada.



Estou na estação rodoviária do Tietê, esperando meu ônibus pra Minas Gerais, ouvindo Björk (no auto-falantes da estação mesmo e não no meu diskman) e comendo um pão de queijo, porque afinal de contas, estou indo pra minha terra natal, a terra do pão de queijo e do doce de leite com água mineral e guaraná Mantiqueira... mistura boa né?? rss...


Meu feriado está agitadíssimo, não que eu tenha feito algo de útil, mas estou andando feito um camelo, ou correndo, como foi o caso ontem. Várias ligações, pessoas me procurando, eu procurando pessoas, sensações diversas, sorrisos ininterpretáveis, a vontade de escolher qualquer onibus e apenas partir... indo pra onde der na telha... seria legal... mas deixa pra lá, fica pra próxima.

(...)

Depois de mais algum tempo naquela cidade com o amanhecer mais cinzento da face da Terra eu parti, pela Dutra, rumo à minha terra-natal. Eu observava atentamente o caminho verdejante do Vale do Parnaíba deixando pra trás uma variedade indescritível de paisagens, e não olhei pra trás durante todo o percurso, como se aquelas casinhas e fábricas e andarilhos misteriosos fossem a personificação do meu passado, o qual eu quero deixar para trás de uma vez por todas, como as casinhas perdidas nos vales entre as Serras do Mar e da Mantiqueira, pois quando pegar esta estrada em meu caminho de volta, essas casinhas serão como se nunca tivessem estado lá, pois estarei alheio aos teus anseios.

Depois de incontáveis paradas em cidades cada vez mais uniformes e pitorescas eu chegava no início da tarde à cidade onde nasci e vivi meus primeiros anos. Eu via a cidade não com a segurança de um íntimo, de um filho daquela terra, mas sim com a curiosidade de um turista, como se as lembranças que tenho desse lugar tão querido fossem apenas fotos num folder de agencia de turismo.

Logo na primeira avenida já pude perceber que nem tudo mudara por lá. Uma moto caída, um carro de polícia, sirenes ligadas e quase uma centena de pessoas em volta. À medida que eu subia a rua, podia ouvir os comentários relativos ao acidente se propagarem como uma gota num lago, criando ondas de “notícia” onde pela primeira vez eu pude surfar, o que confesso, é uma experiência curiosíssima. E a qualidade dos comentários subia a cada esquina, tinha desde fofoqueiros explicativo-descritivos, especialistas de diversas áreas, um médico falando sobre as suturas que ele já colocou em acidentados de moto, um fofoqueiro-jurista, discorrendo sobre as implicações legais da queda, sociólogos tentando explorar o modus operantis de uma amostragem populacional a fim de provar que a nossa sociedade está infestada de sociopatas, hipsters e punks que não estão nem aí pra vida alheia, os fofoqueiros-economistas que discutem sobre como a indústria automobilística lucra com os motoristas imprudentes que se estabacam no chão, os bibliotecários que ficam tentando analisar e catalogar todas as informações ao redor, entre mais uma infinidade de fofoqueiros típicos de cid... bem, de qualquer lugar.

Logo atravessei a cidade e cheguei ao hotel Solaris, onde minha mãe me aguardava. A recepcionista do hotel era certamente uma bruxa Wicca, acabei de lembrar disso. Um banho e um almoço depois chegava o taxi que me levaria praquela que seria a experiência mais esperada do feriado, ser padrinho de crisma na cidade onde eu fui criado, Carmo de Minas, provavelmente a experiência mais root que eu terei na vida.


Depois de passar numa estrada em perfeitas condições construída pelo futuro candidato à presidência pelo PMDB (um sorvete pra quem adivinhar quem é!?) nós chegávamos lá, uma típica cidade do interior, a igreja, a praça, o coreto, o bar e as crianças brincando, tudo como deveria estar em uma cidade de 400 habitantes. Na igreja, impecavelmente decorada para a ocasião, nem sinal de movimentação, nada além de lâmpadas de natal piscando em volta de uma imagem de Nossa Senhora. Os apóstolos me olhavam curiosamente, com intimidade semelhante à das crianças lá fora, pois não os devia ver onde quer que fosse, há tanto tempo quanto não via aquelas crianças.


Depois de cerca de uma hora de atraso, a praça começa a se encher e antes que eu pudesse tirar a máquina fotográfica do bolso a cidade toda já estava entre a escada da igreja e o carro do prefeito que vinha trazer a personalidade do dia, o bispo. Pela primeira vez eu via um desses fora do tabuleiro, e agora posso dizer, é igualzinho, de longe parece feito de marfim ou mármore italiano, mas quando se chega perto dá pra ver que é de barro, bispo Diamantino era o nome desse, muito parecido com o santíssimo padre, porém mais ressecado.


Depois de abençoar um maço de santinhos do prefeito lá vinha ele, carrancudo como o cargo recomenda, seguido por uma multidão de 400 pessoas. Depois de certo empurra-empurra com a chegada de bispo Diamantino, o Chicó pode tocar a flauta mág... não, essa é outra história... Logo todos se acomodaram e começou a ladainha. Lá pelos quarenta minutos da terceira hora de palavrório, com um “para que sejamos verdadeiramente filhos de Deus reconheçamos nossos pecados e peçamos perdão” e mesmo um ou dois “pois ele nunca desprezou um desgraçado em sua miséria” e uma canção cujo refrão é “tende piedade de nós, só vos sois o Santo, só vós, o Senhor, só vós, o Altíssimo, com o Espírito Santo na glória de Deus pai...” acaba a punição, os crismados vão, abraçam e beijam o anel de Diamantino, o bispo de barro e estão todos livres para voltar à pecaminosa noite de Minas Gerais, cheia de pinga e de “fogo mineiro”. Mas o taxista nos esperava, tínhamos que ir.


De volta ao hotel da Senhora do Lago eu continuava de queixo caído com aquela cena de filme do Mazzaroppi, toda a cerimônia tinha o cheiro do nanquim de Frans Post quando chegou a Pernambuco junto de Nassau no início século XVII, tinta velha que depois de morar em São Paulo por 19 anos eu já não fazia mais idéia de que ainda era usada.

Ouvindo:

Interpol - Say hello to the angels.