terça-feira, abril 03, 2007

Veias, artérias e capilares.



A estrada é mesmo um lugar onde eu me sinto bem, adoro ver as faixas passando por baixo do carro e se perdendo sob os caminhões que vêem atrás, é como a minha memória recente, logo ela some, depende da distância entre o meu rabo e o nariz de quem quer pasasr por cima de mim. Sentir o vento a 160km/h na sua cara, mesmo que seja por uma frestinha da janela é ótimo, ver a serra da Cantareira ficando pra trás, São João do Miriti, Magé, Resende, a divisa dos estados e em seguida Aparecida, Taubaté, São José dos Campos, Santa Clara... eu viveria disso, ultimamente tenho pirado em como deve ser a vida de um caminhoneiro, ou então de um pescador... afinal de contas, eles trabalham em 2 dos lugares que eu mais gosto nessa vida, o mar e a estrada... viajei bastante a respeito e acabei chegando à conclusão de que deve ser como ser ginecologista, você tem que ser profissional, não dá pra ficar brisando quando você está lá a trabalho.

Duque de Caxias, lugarzinho estranho, gente mal encarada em tudo que é canto, muito calor, muito fedor, estrutura nenhuma e uma biblioteca desenhada pelo Niemeyer que custou 20 milhões de reais bem no centro da cidade... dá pra entender? Eu trabalho com bibliotecas, acho elas importantes, mas aquilo é um disparate, algo realmente disproporcional... nessas horas dá pra entender porque o Rio é o que é, e está como está.

Na volta pra São Paulo eu suava loucamente na estrada, olhava para os lados querendo absorver tudo, sentir tudo, queria lembrar da estrada, o que foi estranho, eu não havia viajado depois de terminar o "On the road", do Kerouac, numa parada pra comprar água em Santa Isabel desci do carro num pulo e fui saltando até uma padaria, quando me joguei sobre o balcão da padaria me toquei que eu estava agindo feito um maníaco, parecia um drogado falando e suando e pulando feito um doente, eu estava realmente alterado e naquela hora foi como se o Dean Moriarty tivesse baixado em mim... não sei se foi a estrada ou as horas ininterruptas na frente do computador, mas eu estava empolgadíssimo com a estrada, a estrada.

Chegando na cidade eu comecei a me acalmar, pegamos o corredor norte-sul, passamos pelo clube de regatas Tietê, Pinacoteca, Estação da Luz, Anhangabaú... coloquei na KissFM esquanto o carro passava sob o tunel e o barulho parecia a intro de 100%, por causa do tunel, quando saímos à luz do entardecer do centro da cidade, dando de cara com a praça da Bandeira e o terminal começa a tocar Fascination Street do the Cure, enquanto passávamos pelo Cambridge e os prédios iam se fechando à nossa volta e os viadutos passávam sobre nós como teias e o baixo ficava cada vez mais alto e a noite caíndo e a música subindo numa escalada vertiginosa até que eu desci do carro na frente da FGV... então desci do carro e subi até o BH pra tomar uma Heiniken e comer um pão de queijo... vendo a Augusta pela enésima vez eu pensei no quanto gosto dessa cidade, pensei no quanto eu pertenço a ela e em toda a nossa relação... eu estava em casa de novo.

Ouvindo:

The Cure: Fascination Street
Deftones: Be quiet and drive