segunda-feira, maio 26, 2008

Regras do amor

Eu e minha namorada sempre tivemos nossas briguinhas, mas que casal não tem não é? Muitas vezes brigávamos feio, de bater porta e não nos falarmos por dias. Violência nunca, abomino isso, e ter quase oitenta quilos me mantém quase imune a uns sopapos, apesar de já ter recebido alguns, mas isso já outro lance.
Estávamos numa espiral de brigas interminável àqueles tempos, éramos pessoas ocupadas, trabalho, eu ainda estudava à noite e como profissionais das humanidades, tínhamos que manter contato próximo com alguns colegas mais influentes, o que na verdade não era sacrifício algum, afinal, redações de jornal, agências de fomento cultural, produtoras de arte e estúdios de fotografia sempre foram lugares povoados de pessoas divertidas, e gostávamos daquela vida agitada de cidade grande, cheia de festas, jantares, vernissages, exposições e bares da moda.
Porém, com o tempo começamos a nos desencontrar, já não dávamos conta da vida a dois, aliada àquela vida louca de Engovs e olheiras. Começamos a nos ver cada vez menos, e a cada passo que a relação dava nesse sentido as brigas só faziam aumentar, em quantidade e qualidade, chegamos ao cúmulo de brigar lado na cama ou por nomes não ditos; e foi aí que resolvemos colocar regras de convivência, nada demais, não era uma cartilha nem nada do tipo. Começou na verdade de forma bem singela, depois de uma comida de rabo depois do terceiro atraso no trabalho em uma semana (e era quinta-feira) veio a primeira regra, em forma de desabafo, por e-mail mesmo, a fim de evitar que aquilo se transformasse numa pauta, era simples, ela escreveu “não faremos mais sexo pela manhã, e quando o despertador tocar é porque é hora de acordar”, nada muito drástico, só era necessário para que ambos mantivessem seus respectivos empregos. Seguimos a lei à risca, era um sucesso institucional.
Porém este nem mesmo era um motivo de briga, e com o tempo tinha potencial de se tornar um novo motivo. Numa conversa inocente de MSN veio então a segunda regra, também nada sério, era algo como “se sairmos separados e formos dormir juntos, o mínimo antes de cair na cama é escovar os dentes, quando um banho não for requisitado pelo bom gosto”. Vai dizer que não é justo? Isso era um motivo potencial para brigas, apesar de nunca ter suscitado nenhuma. O problema com essa regra era justamente esse, apesar de seu fundamento jurídico e prático justíssimo e alinhado com as leis mais básicas da convivência humana, ela tinha um vício de jurisprudência, já que normalmente dormíamos juntos na minha casa, e como ela se recusava a manter uma chave, então eu sempre chegava antes, assim sendo, a regra tomou um tom de crítica, sinceramente até o era, então, como era de se esperar, na próxima briga que pode ter começado com qualquer trivialidade como um arroz queimado ou um presente quebrado (bibelôs são frágeis exatamente para serem quebrados e substituídos, isso mantém a dinâmica do casal realmente dinâmica) então que veio a requisição de uma retratação a respeito da regra, ela foi discutida exaustivamente e por fim ratificada.
Se você conhece São Paulo ou assiste o Jornal Nacional, mesmo que de vez em quando, então você sabe que a cidade tem seis milhões de automóveis, e que eles não costumam passar dos 15 km/h, a não ser quando eles capotam na Marginal ou na Bandeirantes. Não gosto de dirigir, é fato, e pular de ônibus em trem e de trem em metrô sempre me pareceu bastante mais lógico do ponto de vista ambiental, de custo de vida, de saúde (estou falando do estresse), isso sem falar que eu tenho pavor de dirigir. Pois bem, vez dessas resolvi visitar um grande amigo que acabara de ter um filho e uma grande publicação, ele resolveu dar um churrasco e eu me prontifiquei na hora, apesar de ele morar literalmente do outro lado da cidade, como não poderia deixar de ser. Ela teve que trabalhar, o que acontece bastante com ela. Já à noitinha ela me liga “tu vens jantar comigo?/jantar não, come que eu to saindo daqui em seguida e vou te ver”. Cerveja, carne, amigos queridos e o bebê cor de rosa dispensados, com a pressa que a ocasião pedia (sinceramente não muita, já que não pretendo voltar ao Jd. Sabrina tão cedo (Só um adendo sobre a vida em Sampa: Se alguém te convida pra ir num lugar chamado “Jardim” desconfie, se o segundo nome for nome de mulher então, te prepara para viajar pela cidade)) me fui, uma hora de ônibus e mais meia horinha no metrô e eu já estou quase lá, então o telefone toca “to cansada, nem precisa vir”... mas... e a ... bem, no dia seguinte abri o e-mail e uma nova regra, menos pontual, mais de conduta, “meu tempo não é merda, não trate-o desta forma”.
A gente resolveu depois de um tempo morar juntos, pra tentar amenizar as brigas e dar uma nova qualidade para a convivência, uma chance pro amor vencer, porém as regras não deixavam de surgir, daqui e dali, “não peidar na frente dos meus pais”, “anal só em data especial”, “esse tênis você guarda pra quando eu estiver fora do estado”, “quem lava a louça escolhe o filme/DVD”, "não fumar no quarto", “na lua cheia não me enche”, isso sem falar nas posses, algo muito importante na sociedade atual, “essa escova de dente é minha”, “os meus enlatados estão com um “J” escrito em cima”, “não usa meu chinelo”, entre outras regras básicas que nenhum casal pode viver sem como “não coloca essa mão úmida na minha progressiva”, “não xinga o meu primo, ele é gay sim mas ele pisca pra você por causa de um tique que ele tem a anos”, “se um CD está fora da caixa é porque ele não é importante, então eu vou jogar fora”... Depois de algum tempo já não se repetiam as regras, primeiro surgiu o “lembra do que a gente combinou”, mas depois mesmo isso se tornou obsoleto e nos entendíamos quase que exclusivamente por sinais, o favorito dela era o olhar cortante, o meu era estalar língua contra o céu da boca e levantar a sobrancelha direita.
Mas mesmo assim ia tudo bem, tínhamos nossos empregos, a casa, as roupas, os corpos e tudo mais em perfeita higiene e ordem, conseguimos comprar todos os utensílios domésticos do fast-shop depois que eu parei de gastar com cigarro e ela com o chocolate, éramos enfim um casal feliz e saudável.

Kafka era casado?

quarta-feira, maio 07, 2008

Agora aqui.



Estava cansada, depois de um dia duro de trabalho, comprei legumes, um peixe e corri pra casa pra fugir da chuva, sem sucesso, a sacola de papel com os legumes estourou e fiquei na chuva recolhendo-os por tempo o suficiente pra ficar ensopada e não precisar mais correr pra casa. No metrô conferi se estava tudo lá. Faltavam os aspargos. Nem mesmo podia olhar pra frente em paz agora, pois estava toda molhada e minha roupa marcava cada linha do meu corpo, o que causou alguns risinhos de crianças e comentários deselegantes dos homens do vagão. Não me importava realmente, só não queria ser vitimada por gentilezas pretenciosas e cheias de intenções, como já acontecera antes. Não queria mesmo ajuda alguma, estava satisfeita com minha cara amarrada a caminho de casa. Ao me levantar notei o salto quebrado, o que não haveria de ser novidade num dia daqueles. Corri pra fora da estação e caminhei agora mais sossegada, a caminho de casa, molhando os pés no húmus gelado das folhas que caíram com o vento e com a chuva.
Peguei a chave na bolsa e entrei, nem mesmo olhei para os lados pra não ter que ouvir piadas de algum vizinho. Tranquei a porta, joguei a chave na mesinha, enfim estava livre, a bolsa voou graciosa até o chaise, o terninho soltei numa cadeira enquanto tirava os sapatos molhados no corredor que vai até a cozinha, lá peguei uma taça grande, subi noutra cadeira e peguei um Cognac, era um presente de muito tempo, um Courvoisier, hoje eu merecia ele, abri e sem culpa coloquei uma dose generosa. Peguei minha taça e a garrafa e subi as escadas perfumando a casa toda com aquele aroma. Chegando ao quarto abri as persianas, mas mantive o vidro fechado já que a chuva não cessara, apesar da luminosidade ímpar daquela tarde, o céu ganhava tons de rosa e dourado e fiquei por ali, em frente à janela enquanto tirava o resto da roupa ensopada.
Não sentia frio, tampouco estava incomodada em me esconder dos passantes, pois estava segura, confortável e agora nua. Sentei-me na cama e observei os últimos raios do Sol atravessarem minha janela, sozinha, forte, eterna.

Limonada suissa III

Encontrei o Mad em cima da hora, ele estava no bar da esquina de casa, com a mochila no chão. Vamos logo com essa porra senão a gente perde um busão, eu gritava, eu tremia, estava louco pra chegar logo. Foi um mês foda, escrevia o que passava na cabeça, tentei levantar uma grana em todas as fontes de dinheiro que eu conseguia, vendi uns CDs, tentei vender uma mochila, não rolou, tinha quase duzentos paus, pra ingresso, hotel, comida e bebida, a passagem eu parcelei, o Mad não sei quanto tinha, provavelmente mais.

Chegamos no posto de gasolina, acendi um cigarro encarando o frentista, que já tinha desistido de pedir pros viajantes não fumassem... que se exploda tudo mesmo! Eu estava excitado, ia ver a melhor banda de um dos períodos mais férteis da história da música (89-92), estava louco pra chegar lá logo, estava tarde, estava frio, lá devia estar pior, a guria da pinta sabia q eu ia, mas não parecia muito empolgada, um dia eu descobriria que ela não é uma pessoa empolgada, mas isso já é outra parada.

Embarcamos, era a primeira vez do Mad fora do estado, ele estava brilhando, ia encontrar um cara do MSN... às vezes tenho a impressão de que todos os gays de São Paulo já ficaram entre si, daí às vezes eles saem pra dar uma diversificada, acho justo. Pessoal versátil.

Embarcamos e o ônibus estava meio vazio, como de costume, achei até estranho, pensei que poderia ter errado a data do show de novo, apesar de conferir na internet umas 15 vezes por dia. Entrei e não conseguia dormir, ouvia o Dirty do Sonic Youth, eu estava dirty, com a mesma calça a dias, como o meu irmão quando rasgou a perna no arame farpado aos 12 anos.

Acordei sem ter dormido, achei que estaria de manhã quando chegássemos, errei feio, era noite, era frio, era chuva, era cansaço, era o caralho todo. Foda-se. Pegamos as mochilas e fomos com chuva e 6°C pro albergue, entrei na portaria me sentindo em casa, e aí brother, tem um quarto? Não tem. Como não!? Você tem reserva? Tentei fazer mas o cara disse que nem precisava. É, o cara se enganou, estamos lotados. Mas... estamos lotados, bom dia!

O Mad me olhou de canto de olho, aquilo era o tipo de bosta que poderia abalar uma amizade, esqueci de fazer a porra da reserva e agora a gente tava na rua, na madrugada, molhados e morrendo de frio. Fomos até uma conveniência, comemos qualquer coisa, cervejas, algumas indicações com outro frentista desses com medo de explodir. Olho bem no olho dele enquanto acendo o cigarro, eles ficam loucos! Andamos uns 300 metros e achamos um hotel, achei meio arrumado demais, não que eu não goste, mas não dava pra pagar muito. Oi/bom dia/é, tem um quarto?/Sim/o mais barato/é tanto/caralho/é/valeu. Mas eu posso pagar/eu não/eu pago pra ti/nem fodendo, a gente arruma coisa melhor/mas achei esse hotel legal/é sua primeira vez fora do estado, vou te mostrar o que é legal.

Andamos mais, o Sol tava começando a aparecer. Sol nada né, aquele vulto que tem atrás das nuvens de Curitiba, quem já foi sabe. A chuva diminuiu um pouco, mas nem adiantava, acho q não dava para estar mais molhado àquela hora. Numa esquina vimos um sobrado amarelo, horrível, caindo de velho, e adivinha? Tava escrito Hotel nele. Lótus Hotel. Toquei a campainha, nada. Bati na porta, nada. Soquei a porta, daí desce uma polaca sardenta com cara de sono e hálito de pedra. Quarto?/É o que a gente tem/quanto?/um pros dois/... é/o simples é dez pilas, com mais cinco coloco um colchão no chão, ok?/perfeito.

Te disse Mad, a gente consegue coisa melhor... quem precisa de banheiro no quarto, você viu que massa o velhinho na sala de TV do hotel?... Não Mad, ele não ta morto, deve estar só dormindo... caralho, será que ele tava morto, aquela cor não é normal é?...

O quarto era massa, todo bege, absolutamente todo bege, e com uma vista ótima do centrão. O melhor negócio dos últimos meses. Acho que dava pra morar lá se eu tivesse que ficar em Curitiba uns tempos. Fui no banheiro, era ótimo também, vários fios elétricos por todo lado, sem saída de ar, mas o melhor era o espelho, a madeira da moldura do espelho estava podre e completamente arqueada, parecia que o espelho pesava uma tonelada, achei ótimo. Resolvemos tirar um cochilo antes de começar a explorar a cidade. Ele tinha marcado ao meio dia no mercado municipal com o carinha, ou coisa assim.

Sempre que vou a Curitiba vou nesse mercado, não tem absolutamente nada de especial, é mais ou menos como todo o resto da cidade, e as pessoas, tão morto que acaba parecendo legal.
Acordamos atrasados, corremos pra lá, estava tudo normal, algumas pessoas, não muitas, algumas bancas legais, não muitas, alguns corredores, n... ele ligava, e ligava, e ligava, e nada, hora não atendia e hora dava caixa postal, desistimos, fomos caminhar, eu tinha que comprar o ingresso pro show ainda. Era um tanto ridícula a situação, corri tanto pelo tal ingresso e de repente o negócio está sobrando, era num centro cultural de qualquer coisa, num centro histórico (Largo da Ordem) ou coisa que o valha, a atração do negócio é uma fonte desativada onde os cavalos tomavam água, bem Curitiba, um cavalo bebendo água. Entrei no lugar, um salão enorme, com uma pintura bonita na parede, um grande mural de algum artista local ou modernista ou exilado ou comunista, uma carteira daquelas de escola primária e um cara nela. Onde compro ingresso pro Pixies/comigo, inteira ou meia?/fácil assim?/vc quer preencher uma ficha ou coisa assim?/e pra hoje, tem ingresso?/o que você acha?/Meia pra hoje e pra amanhã/aqui... boa tarde. Caralho, agora sim eu tava bem, com os ingressos na mão, a um preço justo, as coisas estavam começando a funcionar. Fomos pra rua das flores, andamos aquilo de cima a baixo, tinham poucos indies na cidade, mas já dava pra notar uma incidência maior de listras, de lápis de olho e de Adidas. Sentamos pra beber, o Mad nunca tinha tomado um chope. Pedimos. E outro. E um Steinhäger, e por aí foi até a hora do Teenage Fanclub se aproximar.

Comecei a ficar alegre, achei até que tava com dinheiro, comprei uns livros, nada demais, mais pra ajudar o vendedor mesmo. O Mad rachou o valor de um livro comigo e ficou tudo ótimo. Fui pro show, peguei um ônibus, uns 20 minutos depois eu tava na entrada da pedreira, eu estava muito excitado com tudo aquilo, queria que o Mad estivesse comigo lá, ou a branquela da pinta, mas àquela hora não importava mais, eu estava com frio, com fome e sem grana, mas aquela noite seria "triafú", ela tinha que ser.

Vários dos shows de abertura eram ótimos, encontrei um pessoal que estava no albergue e me enturmei, nem por nada, só pra compartilhar frio e opiniões sobre os shows. Tinha uma canadense lá, Liane, achei que ela dizia que era de Viena, daí fui querer saber o que ela fazia no Canadá, Quebec, eu aceitei na hora, depois de umas semanas que fui entender um pouco do que se passou ali. Vimos boa parte dos shows abraçados, tava frio pra caralho, mesmo com a multidão toda. O Teenage foi sensacional, melhor do que eu esperava, mil vezes.

Na volta descolei uma carona até o albergue, eles tinham um ônibus que ia pra lá. Já salvei dois pilas, no ônibus a Liane deu um piti daqueles, não entendi nada, só sei que ela disse que era pra eu ir no albergue no dia seguinte, porque ali, naquela hora, no ônibus não rolava de a gente se falar. Acho que não rolaria de qualquer forma.

Saltei na rua das flores, tinha que buscar minha jaqueta de couro, que tinha esquecido num bar no mês anterior, fui andando na direção que achei ser a certa, e andei e andei, caralho andei muito, sifudê, não fazia idéia de onde era o lugar, de vez em quando parava num posto de gasolina ou num ponto de taxi, ninguém parecia saber muito mais do que eu, mas pelo menos o nome da rua eles sabiam já ter visto, o que era uma esperança. Pelas 3 da madruga achei o maldito bar, as paredes suavam de tanta diferença entre a temperatura de dentro e a da rua, que devia estar em uns 3°C aquela noite. Entrei e peguei a jaqueta, quase peguei uma outra, meio de motoqueiro, mas era meio pequena. Voltei com menos frio, com as minhas luvas furadas e a jaqueta de couro. Pensava na branquela da pinta, devia ir vê-la no dia seguinte, queria muito, mas não conseguira falar com ela ainda, só com a Morgana, uma amiga dela que pareceu bem mais feliz com a minha estada lá do que a própria da pinta. Vai entender. Pensei na relação toda, desde aquele dia louco na Aloca. A forma como as coisas aconteceram parecia uma jogada do destino, seja lá o que esse queria de mim, lembrava de uma coisa que ouvi uns dias antes, que quando olhamos fixamente pra uma coisa por mais de 38 segundos ela começa a perder a forma, a imagem perde a realidade e acabamos vendo coisas que não estão ali. Quanto tempo será que demora pra acontecer isso num relacionamento? Quanto tempo filosofando sobre uma pessoa faz ela perder a realidade, a forma? Queria ter essa resposta, queria saber quanto tempo longe é o suficiente pra mudar de idéia, pra desistir, acho que eu nunca vou ter essas respostas.

Cheguei no hotel, o Mad dormia feito uma criança, o steinhäger funcionou pelo jeito, mas o cara do MSN pelo jeito não. Mijei, me olhei no espelho torto, agora quem pesava uma tonelada era eu, precisava dormir.

Acordei no outro dia cansado, depois de atravessar a cidade na chinelada. O Mad acordou em seguida, fumamos uns cigarros, falamos sobre a noite anterior e voltamos pra rua. Agora eu estava decididamente falido, então o Mad pagou o almoço e algumas cervejas até que do nada a da pinta liga, estávamos na rua das flores e ela foi pra lá. Reapresentei os dois, tiramos umas fotos e demos umas voltas, sem conversas profundas, sem discussões, apenas um sábado à tarde gelado, bem Curitibano. Ela tinha que encontrar a mãe ou sei lá o que, e foi, continuamos em qualquer bar, tomando umas cervejas geladas. O Mad perguntava da garota, e eu só podia dizer não sei, porque era a resposta que me cabia, não tava com cabeça pra pensar em futuro ali, só queria saber do Pixies, e parti pra pedreira.

Cheguei e dei uma circulada, os shows de abertura estavam ótimos, o Wander Wildner quebrou tudo, o Pin Ups entrou com a formação original e arregaçou com 3 músicas dos primeiros álbuns, mas o público não se empolgou, a não ser eu e mais uns outros poucos. Então a Alê disse “essa é a última vez que vamos tocar esse som, e ele se chama Witkin”, caralho, foi a coisa mais linda da noite, foi incrível, mas os cretinos dos Curitibanos começaram a vaiar e a organização cortou o som, e eles saíram revoltados do palco, eu estava revoltado com aquilo, era o sonho de uma vida, Pin Ups de volta e Pixies numa noite, mas os cretinos provincianos destruíram tudo. No fim da noite eu ainda veria a Alê e a Eli carregando os instrumentos chorando, passando pelo meio da multidão, queria um dia dizer a elas o quanto fiquei triste com aquilo naquela noite.

Bem, ainda tinha o Pixies, e depois de quase uma hora eles entraram. É difícil dizer o que foi aquele show, só sei que não tinha nada acontecendo no mundo fora dali, sem pinta, sem destino, sem Mad, sem pindaíba, eram só Frank, Kim, Dave, John e eu naquela noite fria de Curitiba.