domingo, janeiro 22, 2006

“Puta calor da porra” pensei comigo quando desci do ônibus em frente ao shopping, não me lembro a quanto tempo não entrava naquele lugar, a zona sul de São Paulo tem algumas coisas estranhas, uma delas é o calor, em alguns lugares da ZS sempre faz calor, e aquele shopping é um desses lugares, shopping Interlagos, as pessoas parecem ser sempre as mesmas, pra quem leu o que eu disse sobre os trens municipais vai entender o que estou falando, a massa quente de uma virada de bode em uns 4000 metros quadrados. Me sentei em frente à C&A, um dos pontos de encontro mais freqüentados da minha infância, me sentei e acendi um cigarro enquanto observava a massa passando, como tem gente na zona sul, é muita gente mesmo. Depois de alguns minutos chega meu graande amigo Júnior, que eu não viu a vários longos meses, entramos no shopping, o calor aumentava a cada passo, aquele lugar é realmente infernal, e como é! Fomos para a Ilha do Chop, que eu sempre via mas nunca antes deste dia havia usufruido dos serviços, provavelmente por ser jovem demais pra isso nos meus tempos de au passant naquele lugar, conversamos muito, sobre muitas coisas, Curitiba, ex-pessoas, atuais pessoas, viagens, sexualidade, moda, ZS versus ZO, transporte público e mais uma gama tão larga de assuntos que deixariam esse texto enorme e entediante, ao contrário da conversa que sempre é ótima quando estou com ele.

Depois de alguns chopes e cigarros fomos ao Burger King, e que beleza de lugar, que beleza de comida, Uau! Quando estávamos lá o Júnior foi convidado a comparecer ao Bocage, e depois de alguns protestos por parte dele próprio acabamos resolvendo dar uma passada na esquina mais movimentada das tardes dos Jardins.

Um ônibus e dois metrôs depois e estávamos lá, cercados pela alegria e descontração gay da cidade, o Júnior parecia um celebridade, não dávamos dois passos sem um “oi querida, como vai!?!?!?!? Ficamos lá por cerca de uma hora e meia, ouvindo estórias sobre baladas GLS, saunas gay, puteiros, traições, mágoas, trocas de casais, mais mágoas, cortes profundos, mais traições, diversão, drogas, sexo, álcool, ou seja, uma aula sobre a noite na Downtown paulistana, eu só queria estar com um bloco de notas ou um gravador, Uau!

De lá deixei o Júnior no metrô e corri Teodoro abaixo, ou acima, depende do referencial. Cheguei ofegante ao 648 e depois de uma ligação me aparece um sorriso de olhos vermelhos chamado Paula, não que eu a chame assim, mas isso é coisa nossa. Continuei descendo/subindo a Teodoro com minha senhora até a Henrique Schaumann para ela jantar, havia muito a ser feito naquela noite e também no dia seguinte e precisávamos de algo rápido, ela escolheu o Big X Picanha e saltamos até lá, um Milk Shake de morango, alguns beijos e palavras doces depois e tive que devolve-la à labuta, onde a sra. Krulik a esperava com seu vinho, cigarros e seu charmoso sotaque para uma madrugada imersa em fotografias e portfólios para mais uma tour.

Deixei-a na porta do prédio e subi/desci novamente a Teodoro, a noite estava quente e eu estava inquieto, não sei bem o porque até agora, mas estava. Andei pelas ruas escuras dos Jardins até a Paulista, ao chegar lá as luzes e as pessoas na rua me acalmaram, voltei a andar com calma, observando cada detalhe, cada alma perdida na noite da Paulista, noite que mesmo sem um mar e sem muitas estrelas encobertas pela densa poluição é pra mim uma das mais lindas que poderiam existir. Entrei na Augusta, como de praxe, descia a rua seguro, os gritos, olhares, assovios e mãos que estavam à minha volta nada me causavam, as luzes sibilantes dos apartamentos e dos luminosos pela rua eram as estrelas que faltavam nos céus, eram a luz que me mantinha à salvo de qualquer mal, eu estava confiante, com passos seguros e clareza de idéias, essa noite eu me sentia bem, o calor da noite me confortava e eu estava certo de que lugar para voltar não me faltaria, pois quem estava ao meu lado era confiável, totalmente, me senti completo, pleno, e a noite solitária só poderia viria a corroborar com isso.

Segui até Aloca, um club GLS dos mais tradicionais da cidade, porém para um club GLS ser tradicional tem uma conotação muito particular. Resolvi entrar, logo na entrada fui recepcionado por uma Drag Queen enorme que me pediu o RG, entrei e o lugar era quente, quente, talvez mais que o shopping que havia ido mais cedo, eu transpirava como louco cercado por estivadores sem camisa, garotas de boné cara de mau, guris de piercing no lábio e franjas ensebadas entre outras figurinhas que já me são conhecidas de longa data. Logo que caí pra pista encontrei meu querido amigo Sodoma com seu fiel companheiro Sérgio, fui recepcionado aos tapas e sorrisos, o que me lembrou do adiantado da hora e provavelmente também do nível alcoólico dos garotos, olho para as pic-ups e lá está o Rodrigo, um querido amigo dos meus tempos de acíduo freqüentador da casa, ele pulava e se divertia tocando Débora Blando para a pista enlouquecida. Eu tentava dançar mas estava completamente cercado de corpos exalando álcool e sexo, nada que eu não conhecesse, algumas vezes inclusive na pele, naquele mesmo lugar, mas aquilo não me excitava, e naquele momento até me incomodava, fiquei apreensivo pois fechava os olhos e sentia claramente vários percorrendo o meu corpo, como mãos, abria os olhos e os via mais perto do que eu gostaria, então olhava para o chão e via os pés à minha volta se virarem de frente pra mim, eu me virava e em segundos os pés dançantes que me cercavam estavam como setas apontados pra mim, aquilo me invadia, as bocas trêmulas e as mãos ansiosas à minha volta me deram bons motivos para não querer voltar mais lá, pelo menos não aos domingos, o que é uma pena pois esta foi por algum tempo minha noite preferida para ir àquela casa azul.
Me joguei pra fora de lá assim que pude e voltei a andar, andei até uma lan house onde fiquei por horas vendo e-mails, escrevendo e vendo pornografia, o que não é lá muito nobre mas me diverte, se é que esta é a palavra mais adequada. De lá voltei a andar até o dia amanhecer, o que assisti da nove de julho, enquanto assistia a uma batida da polícia que prendia uma família que havia invadido uma casa abandonada para morar.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Puta que pariu, é sexta-feira 13!!!!!!!!!!!

era só isso, queria gritar isso.


Abraços e feliz ano novo.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Drunken Hearted Man

No final das contas acho que tudo se resume a um único exercício, um exercício de escolha entre prazer e dor. Fugir da própria dor, buscar o prazer sem fim, sem limites, mesmo que este esteja na dor do outro, a dor do outro é outra coisa, não é dor. Ela só é dor quando a lágima é derramada no teu colo, o tapa é na tua face, o sangue é no teu vidro.

Se importar com a dor alheia é um exercício também, porque não. Este é um caminho sem volta, a dor sentida na carne, a lâmina fina da dor rasgando a carne, depois que o sangue escorre o que resta é assistir e passar um anti-séptico, não existe punição que cegue a dor, ensurdeça o sofrimento de quem foi ferido, quando a mancha na calçada se faz real e os olhos se enchem de lágrimas não há mais remédio, a vergonha se eterniza numa cicatriz sem mascaras, a bênção de uma marca recebida não pode ser negada, compartilha-la é multiplica-la, nunca a cura.

O carinho da pele macia do vingador, o olhar louvado do perdão só te leva pra dentro da chama do inferno viciante, interminável, a consciência de fazer parte de um ciclo de prazer e dor é como uma agulha envolta por carne e recheada de heroína, sapientiae é promessa, daí pra frente são hormônios e neurônios, um estalo e a coisa toda se processa sem fim, a estrada corre frenética sob os seus pés e você só vai querer não estar lá, e mesmo que você não estivesse, o veneno vai te invadir pois este é o jogo, o fim do tédio torturante se dá na mentira, na intriga, na verdade que insulta, na distância insistente e na aceitação preguiçosa.

Quando ouço seus passos subindo as escadas me lembro da prece que não fiz ontem antes de dormir e mordo o lábio numa punição tardia pela distração, não é falta de fé, talvez sim de hábito, mas seus calcanhares agredindo o assoalho parecem estar sobre minhas vísceras enquanto me encolho para me esconder de meus próprios arrepios ante a severa punição de que sou merecedor, pois sim, a mereço por não ouvir as coerentes vozes que me alertaram sobre o que me seria de destino caso minha busca por satisfação fosse para além do que o imposto pela mão vingativa dor, pois esta sim seria definitiva e me buscaria no mais recôndito e úmido buraco.

E esta vergonha indolente, intransigente que me persegue até no mais profundo mergulho teve força suficiente pra me manter díspar, e esse amor que me faz tão bem me tem dado forças para vencer uma natureza maculada e animal, natureza essa que me mantém a todo momento nessa pugna desigual e funesta entre dor e prazer.

Ouvindo:

Deftones - Boys republic, Simple Man
Dominatrix - July 14th
Robert Johnson - Drunken Hearted Man, Me and the devil blues
Ray Charles - Alone in this city, I love you I love you, Can't you see darling
Patsy Cline - I've loved and lost again
Hateen - Big Life
Gladys Knight & the Pips - Letter full of tears
Green Day - Boulevard of broken dreams
Armandinho - Desenho de Deus