You are the only person who's completely
certain there's nothing here to be into
That is all that you can do
(...)You are the only person who's completely
certain there's nothing here to be into
That is all that you can do
(...)Artista: Killing Chainsaw
Álbum: Slim Fast Formula
Música: Passion
Ano: 1993
Hoje em dia a maioria das tribos urbanas paulistanas se acham o “creme de La creme”,desde os enfadonhos e úmidos emos, os indies e suas calças xadrez em meados dos anos 90 até os óculos de armação grossa em 2000 e as atualíssimas camisetas listradas, os fritos das raves e os ganguestá rapper; todos acham que são a tribo mais descolada. Se o tempo de sucesso fosse o critério eu acredito que os indies venceriam, pois conseguiram manter certa dignidade por mais de dez anos, mas existe uma tribo, esquecida no passado, que foi gloriosa em seu pouco tempo de vida.
Se você falar para um adolescente hoje em dia que você é “auternativo”, (a resposta padrão dessa tribo às indagações era “sou alternativo, curto... som auternativo...”), o moleque vai rir de você, ou coisa pior. “Já faz 20 anos que o alternativo morreu” é o que ele dirá, afinal é o que parece a esta nova geração. Na verdade o alternativo morreu a pouco, por volta do ano 2000, com o final dos Pin Ups sendo como uma última flor na lápide. Mas os alternativos eram um pessoal de visual meio largado e dark, algo entre o punk, o gótico, o grunge e o ainda nascente britpop. As preferências desse grupo de elementos, um grupo bem difuso, desde os pés de barro do Parelheiros que iam pro madame satã no fim dos anos 80, os andarilhos da “baixa” Bela Vista, Bexiga, Móoca, Armênia, até algumas figurinhas carimbadas das artes e da publicidade (*). Dentre estes, havia um grupo que se destacava por freqüentar as noites mais exclusivas e de melhor música ao vivo que São Paulo já teve, eram bandas como Garage fuzz (ainda hoje, vivos), Dominatrix (que criaram e difundiram o gênero riot girrrll no país), Pin Ups (alguns dos arranjos mais eficientes e maior presença de palco que São Paulo e o rock nacional já puderam presenciar), Dog School, Street Bulldugs, Okotô, Againe e finalmente, o Killing Chainsaw.
A banda durou pouco, cerca de 5 anos, lançou o discos independentes e excursionaram com passagens inclusive pela Europa, geralmente em festivais de verão. A música a seguir era uma das mais festejadas, ou devo dizer mais “de foder” do show. Uma das músicas mais puxadas para o grunge mais comercial que a banda fez, o que explica o fato de a música ter sido a escolhida para o clipe da banda na MTV. Diferente de hoje, o preço de produção de um vídeo semi-descente era estratosférico, basta pensar que uma câmera de mão caseira custava cerca de 25 salários mínimos (2000 reais pela menina e o s.m. a 79 conto, dados de 93), sem falar na dificuldade de editar aquelas fitinhas na própria câmera(ou o custo de passar tudo pra VHS); hoje uma câmera que grava em DVD custa uns 6 s.m., você pode editar no computador e difundir pela internet, você nem da MTV precisa mais. Os caras eram verdadeiros heróis da resistência, e da dedicação à causa auternativa, e faziam um som da porra.
Como estou tendo problemas em inserir o vídeo aqui, acessem pelo link aqui, vale a pena!
(*) Os primeiros indies surgiram em meados dos anos 90, eles surgiram dos alternativos, apesar de se dizerem apenas contemporâneos dos mesmos. Eles eram formados sobremaneira de estudantes e profissionais de jornalismo e publicidade, um pouco mais limpos e bem-reputacionados que os alternativos, eles acabaram de desligando do grupo como uma dissidência mais “sofisticada”, e esta busca por sofisticação posteriormente os dividiu em dezenas de castas. Muitos alternativos acabaram virando indies, dentre os mais influentes inclusive.
Algumas pessoas são realmente assustadoras, hoje tomei café com um cara muito, mas muito doido. Como parte do Coffee Project eu fui até o refeitório da empresa lá pelas três da tarde, eu havia terminado o post anterior e atendido uns maletas (sempre com um sorriso no rosto, como nos tempos de bartender) na biblioteca e estava precisando de um reanimador, desci pela escada pra dar um gás e fui pro refeitório, chegando lá eu dou de cara com o Nelson, um figuraça que trabalha na área de responsabilidade social da empresa.
Eu acho incrível como o trabalho do cara é marginalizado dentro da empresa, depois de participar como voluntário numa das empreitadas do Nelson eu fiquei louco por uma vaguinha na equipe dele, mas como a equipe é só ele e mais um cara tive que me contentar com uns voluntariados aqui e ali. Depois da minha última pisada de bola com o Nelson sempre que ele me encontra num corredor ou elevador vem logo me repreender, o que costuma ser um pouco constrangedor, mas algumas vezes é até divertido. Dessa vez não foi diferente, ele me fez uma careta e gritou pro refeitório todo ouvir “vem tomar um café mano!”. É, ele me chama de mano, mas não, ele não é um mano, o cara tem lá os seus 50 anos, mas fala e ri como se tivesse 16. Fui até as garrafas térmicas e pensei com carinho no cigarro que eu pretendia fumar enquanto saboreava o café, sentado sob o Sol, vendo as estagiárias pra lá e pra cá, depois pensei bem e como eu já faço isso pelo menos uma vez a cada dia, resolvi tomar o café com o Nelson, o mais perto do Hunter “Patch” Adams que eu já tive a chance de conhecer.
E foi aí que veio o susto, mal me sentei e ele já começou a me perguntar sobre a faculdade, porque eu escolhi ser bibliotecário, como eu descobri a profissão, porque eu era tão calado, mais um monte de coisas uma em cima da outra como um tornado. Não sei se pela posição dele na empresa, pela idade ou se pela qualidade e velocidade das perguntas eu comecei a gaguejar e a titubear nas respostas, fiquei nervoso, sem saber onde por as mãos, tomei o café fervendo só para ganhar tempo para a próxima resposta e depois dessa já não tinha mais café e eu comecei a vacilar mais e mais, foi um momento realmente muito tenso, a vontade que eu tinha era de me levantar e sair, quis que o meu telefone tocasse mas nada, as perguntas se sobrepunham e ele parecia cada vez mais ansioso por respostas e eu me vi sem elas, pela menos sem respostas que pudessem satisfazer a ele, ou a mim.
Depois das perguntas veio a psicanálise, então o Nelson começou a me descrever como eu era aos seus olhos, com a mesma empolgação com que ele me inquiria agora ele falava sobre quem eu era, na sua visão um livro fechado, alguém que se esconde sob uma pilha de livros para não ser visto, não ser julgado, confrontado, assim como ele estava fazendo e exatamente assim como eu estava me incomodando. Ele declamava a respeito da minha timidez como se me conhecesse a anos, sempre muito bem referenciado, “no dia que eu te conheci na biblioteca, você fez aquela cara...”, “quando voltamos do treinamento de informática você não abriu a boca...” e mais uma dezena de vezes em que eu fiquei quieto, ou falei baixo, ou fiz cara de que queria falar e não falei, em suma, todas as vezes que eu encontrei com ele, ou quase todas. Eu me senti despido, invadido mesmo, mas não pelo que ele dizia, pois disso eu já sabia, pelo menos em parte, mas pelo fato de ele ter me visto meia dúzia de vezes e ter me sacado tão facilmente, a forma como ele falava era intimidadora, intensa, sempre numa postura de ataque, ele falava de forma gentil, era como um abraço, mas extremamente ameaçador, como eu já havia ouvido de umas poucas pessoas na vida.
Depois ele se descreveu, assim como eu fiz agora, com mais palavras, muitas mais, sempre sorrindo presunçosamente, mas com razão. Por alguns minutos, talvez até por algumas horas, eu quis ser como ele, intenso como a laranja mecânica de 74, quis ter esse poder de confundir e clarear, um brainstorm 18 horas por dia, com ânimo e boas intenções vazando pelos poros, a energia de um garoto de 7 anos e a firmeza de um senhor como é sua atual apresentação. Não fico decepcionado porém em saber que este não sou eu, sei que tenho minha couraça, assim como ele tem sua própria, ou você acha que alguém fala tanto à toa? Falamos sobre isso também, eu sei que escolhi uma vida de sombras, resultados pouco palpáveis e pouca visibilidade, julguei isso quando escolhi ser quem sou, minha profissão, meu lar. Uma das grandes escolhas da vida é mesmo esta, como se proteger, se manter à salvo das perguntas que não se quer responder.
Ouvindo:
Sonic Youth: Shoot, Wish Fulfillment, On the strip, diamond sea, superstar
Radiohead: Planet telex, high and dry, fake plastic threes
Deftones: around the fur, the boys republic
Sergio Reis: Menino da porteira ;)
Chico Buarque: Meu menino, Construção, Com açúcar e com afeto