Você tem os sentidos, olfato, paladar, tato, etc. E você tem também um cérebro, pra processar e trabalhar toda essa gama de sensações recebidas pelos sentidos. No cérebro existem várias partes e vários comandos, em um lugar ficam os cálculos matemáticos, noutro a noção de espaço e equilíbrio, mas não podemos confundir com o equilíbrio emocional, esse fica em outra parte totalmente diferente, junto com todas as emoções e coisas que não controlamos ou entendemos. Nos últimos dias eu venho tendo dores de cabeça terríveis, como se o meu cérebro estivesse inchado e quisesse romper meu crânio e ocupar uma sala inteira. Obviamente esse aumento de tamanho não deve ter nada a ver com um aumento de capacidade de trabalho, apesar de que isso seria muito benvindo. Estou trabalhando em dois lugares muito distintos entre sí, com funções muito diferentes mas com um problema comum, na verdade dois. O primeiro é o ar condicionado, geladíssimo, que me deixa doente só de pensar, aínda mais de passar horas nele. O outro é a natureza mecânica dos trabalhos, e isso sim é um grande incômodo. Tenho idéias o tempo todo, com algum dinheiro para começar e coragem de execução tenho certeza de que já estaria bem rico agora, mas também acho que treinaria a seleção melhor que o Dunga, então não é difícil prever que o meu ego não é muito confiável. Descobri ontem que as dores de cabeça não eram causadas por nada cerebral, nenhuma preocupação maior ou problema insoluvel, é apenas sinusite, uma doença da qual pouco conheço e que até por isso demorei a entender seu funcionamento e suas demandas. Achei que precisava de água, e sim, preciso de muita, apesar as dores aumentarem quando a bebo. Precisava também fazer inalação, de agua com sal se fosse o caso, mas precisava derreter o muco inflamado que está se expandindo dentro do meu crânio.
Não posso dizer que a sinusite me fez rever os conceitos e querer viver uma vida nova. Continuo fumando, bem menos, mas continuo. Não posso largar nenhum dos empregos, mesmo sabendo que a minha saúde não vai lá muito bem um pouco por essa correria diária e dessas mudanças bruscas de temperatura entre escritórios gelados e uma cidade quente como poucas vezes se vê, mesmo no verão.
Ouvi no elevador outro dia um cara falando “você vive pra trabalhar ou trabalha pra viver?”, e é dessas pequenas frases, desses pequenos encontros diários com cretinos estranhos que podemos tirar algumas lições. Detesto pensar em lições, acho realmente cretino pensar que exista uma ou duas formas certas de se viver e que devemos ser sempre confiantes, felizes, esperançosos, que devemos querer cada vez mais e ter cada vez mais para uma vida plena de grana e de diversões eletrônicas diversas. Não acredito que eu seja um cara desses, que vai dar certo na vida. Sou preguiçoso, e por mais que eu saiba que isso me tira várias oportunidades de viver coisas e de experimentar experiencias, não sei, gosto de deitar num gramado e queimar um mato sem ter que me preocupar se eu vou ter grana para jantar. Isso sim tem me incomodado, não ter grana pra comer, ou pra comprar um lampada pro meu quarto e ter que procurar meu chinelo com uma lanterna, mas acho que tudo faz parte de ser meio vagabundo, ter dois sub-empregos, uma faculdade, uma namorada, uma família, alguns amigos e não conseguir me dedicar a nada direito porque eu prefiro ficar deitado num gramado queimando mato. Tenho cada vez menos tempo pra isso, cada vez menos mato e menos gramados livres pra deitar, os trabalhos me consomem o tempo e ocupam as minhas mãos, me deixando longe de produzir algo de que eu realmente me orgulhe, e é esquisito como exatamente o tipo de trabalho do qual as pessoas se orgulham são os que pagam melhor, mas são os mais difíceis de conseguir. Eu queria fazer algo relevante pela sociedade, pelas pessoas que precisam, queria passar uma mensagem que fosse mudar a vida de um menino e fazer ele querer ser um cara melhor. Mas acho que estou preso numa roda, onde eu só dou dinheiro pras grandes corporações fazendo um trabalho de macaquinho, ou jogo alguma terra nos meus próprios sonhos enquanto tiro cópias de uns DVDs para uns caras mais no fim da tarde. Na universidade produzo pouco, por preguiça sim, mas também porque o que eu teria a dizer não é algo que eles queiram ouvir. Às vezes acho que eu não tenho nada a dizer que alguém, que qualquer um queira realmente ouvir, ler, ver. Eu queria acordar um dia e ver que o mundo mudou, que as pessoas tem esperança real de que as coisas serão melhores e que elas trabalhem juntas por esse mundo melhor pra todos, mas já não sei se o mundo seria melhor sem a Unilever, sem lucros, dividendos e subprimes. Acho que o mundo seria melhor se as pessoas não precisassem dormir na rua, mas acho que as pessoas devem ter o direito de escolherem seus caminhos, e os caminhos que escolhemos são tantos e podem nos levar a lugares tão diferentes, e às vezes, num vacilo podemos parar debaixo dum viaduto ou enlouquecermos. Tenho medo de ser esquecido, acordo no domingo e olho pro meu celular procurando por ligações não atendidas, ou alguma mensagem de “vamos pro parque, to passando ai”. Acho que devo acabar louco, não comendo merda mas um louco daqueles que não dá pra conviver, que não consegue conviver com as pessoas. Acho que já estou um pouco nesse caminho, falo cada vez menos, me expresso cada vez menos. Não consigo me lembrar da ultima vez que gritei, ou que xinguei alguém com vontade mesmo. Acho que depois de trabalhar a questão da solidão e criar meu bunker agora estou trabalhando a comunicação, a cognição, estudando uma forma de diminuir a área de troca cognitiva com o mundo externo, resumindo o texto, minimizando a linguagem visual, não olhando nos olhos, comendo por comer, respirando pela boca e olhando para os lados só pra atravessar rua. Não era isso que eu queria quando comecei a escrever, não era isso que eu queria quando comecei o ano ou quando entrei na faculdade ou quando cheguei em Sâo Paulo, acho que estou saindo do prumo, indo prum lugar esquizofrenico sem as dificuldades da convivencia humana, mesmo estando cercado por ela todos os dias, ou de repente só estou escrevendo qualquer coisa aqui só pra fazer hora e não ter que fazer qualquer outra coisa porque a minha cabeça aínda dói, mas pelo menos agora eu sei o porque, é sinusite.
Não posso dizer que a sinusite me fez rever os conceitos e querer viver uma vida nova. Continuo fumando, bem menos, mas continuo. Não posso largar nenhum dos empregos, mesmo sabendo que a minha saúde não vai lá muito bem um pouco por essa correria diária e dessas mudanças bruscas de temperatura entre escritórios gelados e uma cidade quente como poucas vezes se vê, mesmo no verão.
Ouvi no elevador outro dia um cara falando “você vive pra trabalhar ou trabalha pra viver?”, e é dessas pequenas frases, desses pequenos encontros diários com cretinos estranhos que podemos tirar algumas lições. Detesto pensar em lições, acho realmente cretino pensar que exista uma ou duas formas certas de se viver e que devemos ser sempre confiantes, felizes, esperançosos, que devemos querer cada vez mais e ter cada vez mais para uma vida plena de grana e de diversões eletrônicas diversas. Não acredito que eu seja um cara desses, que vai dar certo na vida. Sou preguiçoso, e por mais que eu saiba que isso me tira várias oportunidades de viver coisas e de experimentar experiencias, não sei, gosto de deitar num gramado e queimar um mato sem ter que me preocupar se eu vou ter grana para jantar. Isso sim tem me incomodado, não ter grana pra comer, ou pra comprar um lampada pro meu quarto e ter que procurar meu chinelo com uma lanterna, mas acho que tudo faz parte de ser meio vagabundo, ter dois sub-empregos, uma faculdade, uma namorada, uma família, alguns amigos e não conseguir me dedicar a nada direito porque eu prefiro ficar deitado num gramado queimando mato. Tenho cada vez menos tempo pra isso, cada vez menos mato e menos gramados livres pra deitar, os trabalhos me consomem o tempo e ocupam as minhas mãos, me deixando longe de produzir algo de que eu realmente me orgulhe, e é esquisito como exatamente o tipo de trabalho do qual as pessoas se orgulham são os que pagam melhor, mas são os mais difíceis de conseguir. Eu queria fazer algo relevante pela sociedade, pelas pessoas que precisam, queria passar uma mensagem que fosse mudar a vida de um menino e fazer ele querer ser um cara melhor. Mas acho que estou preso numa roda, onde eu só dou dinheiro pras grandes corporações fazendo um trabalho de macaquinho, ou jogo alguma terra nos meus próprios sonhos enquanto tiro cópias de uns DVDs para uns caras mais no fim da tarde. Na universidade produzo pouco, por preguiça sim, mas também porque o que eu teria a dizer não é algo que eles queiram ouvir. Às vezes acho que eu não tenho nada a dizer que alguém, que qualquer um queira realmente ouvir, ler, ver. Eu queria acordar um dia e ver que o mundo mudou, que as pessoas tem esperança real de que as coisas serão melhores e que elas trabalhem juntas por esse mundo melhor pra todos, mas já não sei se o mundo seria melhor sem a Unilever, sem lucros, dividendos e subprimes. Acho que o mundo seria melhor se as pessoas não precisassem dormir na rua, mas acho que as pessoas devem ter o direito de escolherem seus caminhos, e os caminhos que escolhemos são tantos e podem nos levar a lugares tão diferentes, e às vezes, num vacilo podemos parar debaixo dum viaduto ou enlouquecermos. Tenho medo de ser esquecido, acordo no domingo e olho pro meu celular procurando por ligações não atendidas, ou alguma mensagem de “vamos pro parque, to passando ai”. Acho que devo acabar louco, não comendo merda mas um louco daqueles que não dá pra conviver, que não consegue conviver com as pessoas. Acho que já estou um pouco nesse caminho, falo cada vez menos, me expresso cada vez menos. Não consigo me lembrar da ultima vez que gritei, ou que xinguei alguém com vontade mesmo. Acho que depois de trabalhar a questão da solidão e criar meu bunker agora estou trabalhando a comunicação, a cognição, estudando uma forma de diminuir a área de troca cognitiva com o mundo externo, resumindo o texto, minimizando a linguagem visual, não olhando nos olhos, comendo por comer, respirando pela boca e olhando para os lados só pra atravessar rua. Não era isso que eu queria quando comecei a escrever, não era isso que eu queria quando comecei o ano ou quando entrei na faculdade ou quando cheguei em Sâo Paulo, acho que estou saindo do prumo, indo prum lugar esquizofrenico sem as dificuldades da convivencia humana, mesmo estando cercado por ela todos os dias, ou de repente só estou escrevendo qualquer coisa aqui só pra fazer hora e não ter que fazer qualquer outra coisa porque a minha cabeça aínda dói, mas pelo menos agora eu sei o porque, é sinusite.
2 comentários:
Truco! Não há prova maior de que o diálogo foi dimiuido, quando respondo ao autor com suas próprias palavras.
"nos apegamos às nossas verdades irredutíveis e com ela criamos uma
realidade virtual, uma realidade só nossa, cheia de autopiedade e culpa,
cheia de demônios e correntes... intocável, com a missão de nos transportar
para longe de nossa própria felicidade."
=PNOB, nº 5; A Epidemia da Esquizofrenia=
quices, polinha
tudo remete ao mito das cavernas...
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