Eu tava puto da vida, passar carnaval em São Paulo é sempre uma merda, sempre. Não tinha nada pra fazer, não sabia o que fazer, daí decidi ir pra Augusta, onde mais, se tinha sobrado alguma vida em SP era lá. Coloquei a pior roupa que eu tinha e fui, tava na lama, então me sobrava abraçar a bosta. Na primeira esquina um desesperado me pede uma grana, diz que tem mulher e filha com fome na próxima esquina, tremia e chorava feito louco, eu na hora, na hora soltei quatro contos, na hora, o cara saiu todo tremendo, mas parecia meio satisfeito. Fiquei também, por cerca de 4 segundos, depois pensei na pedra que ele fumaria, e donde, se é que tal puta e a filha eram verdade, ele as esqueceria. Fiquei puto sem evidencias, no próximo filho duma puta pedinte dei um murro na cara, antes mesmo d’ele terminar o discurso, filho da puta, caiu e desmaiou como nenhum pai de família seria capaz, nem suspirou, nóia filhodaputa. Já estava louco da vida, andava aos pulos, rangia os dentes, chutava cada pedra solta do chão, balançava os braços procurando assunto em qualquer coisa, e nem tinha encontrado o Mad ainda, esse era um colega de trabalho que duas horas antes eu tinha descoberto que estava na cidade, já era melhor que ficar em casa. Encontrei com ele no BH, quando este ainda era um bar de respeito, cheio de junkies e putas, e com a cerveja a um preço honesto.
Tomamos algumas, uns conhaques e umas São Francisco, como era costume meu àquele tempo. Ele não tinha costumes ainda, mal sabia que era bicha e não conhecia a noite, absolutamente. Tomamos aquelas e fomos pra Aloca, o melhor lugar pra se ir num sábado de carnaval. Como eu não esperava nada que prestasse daquela noite acabei escolhendo o lugar com mais chances de encher. Além do mais, ia com a cara do Mad, ele era engraçado, e eu ainda não tinha o visto pegando ninguém, o que me parecia que ele precisava, ele era muito tenso. Era também obscenamente alto, e devia ser o maior temor de qualquer bicha iniciante, então, se alguém o pegasse teria que estar preparado, pois um negro de mais de dois metros não é todo dia que se introduz.
Chegamos na Lôca, nada de novo, uma fila razoável, formada quase que exclusivamente de caras magros e drogados.
Entramos e fui mostrar pra ele o lugar, no terceiro passo dentro daquele lugar eu já tinha uma goteira de suor se formando no queixo, estava tudo na mesma, a caverna estava cheia e as pessoas com olhares lascivos e com mãos sobrando pra tudo que é lado. Peguei um Gim e soltei o Mad na mão do Digão, um cara forte e cabeludo com quem tinha trabalhado e que apresentaria o Mad a quem ele quisesse. Fui alucinado pra pista, não agüentava mais suar parado. O Pomba tava lá em cima e não parava de mandar som bom, era um depois do outro e eu subia nas caixas de som, me pendurava no parapeito do palco, alucinado pensando no mau negócio que eu tinha feito em escolher viver em São Paulo por mais cinco anos, e de vez em quando olhava em volta e já achava que aquilo era ótimo e que cinco anos seria pouco, eu tava alucinado, peguei outro GT e fui no banheiro, que tava lotado, mais cheio q a pista até. Uns querendo mijar, outros dar um tiro ou uma foda, aquilo tava infernal, e eu tava adorando tudo.
Cruzei com uma branquela de cabelos pretos curtos sensacional, falei qualquer coisa e ela só agradeceu, desisti da mijada, corri atrás do Mad, queria contar qualquer coisa idiota e arrastar ele pra pista, cruzei com uma louca jogada no chão, ninguém nem a notava, lembrei do mendigo com a pedra que eu financiei, e no outro do murro, minha mão tava latejando ainda, peguei a morta e levei pruma parte mais aberta, soltei no chão, dei água, abanei, nada, quando acordou queria saber dos amigos, não tinha visto nem sinal, do nada aparecem uns cinco, a branquela junto. Dei um sermão de leve nos safados e voltei pra pista, o Mad tava se atracando num baixinho e fiquei satisfeito, ele tava bem, eu tava bem, a bêbada tava melhor que antes, agora eu podia pecar um pouco. Subi numa caixa de som fechei os olhos e dancei como se estivesse sozinho no banho ou algo que o valha, quando abri os olhos e olhei pra baixo lá estava a gata do cabelo curtinho. Ela era mesmo gata, seios lindos, uma boca enorme, ela agradeceu por eu cuidar da amiga dela, daí falamos de alguns assuntos paralelos, aqueles das duas da manhã, rápidos, só pra saber que não se está tratando com alguém capaz de matar por coca. Logo estávamos no banheiro, retocando o pó e compartilhando óleos naturais. Não achava que seria capaz de suar mais, mas consegui.
Saí brilhando, satisfeito, com a festa, com o carnaval, com São Paulo, sabia que agora tinha um motivo pra conhecer Curitiba, só não sabia que não seria o único motivo.
3 comentários:
aoishioahsioahioshaio.... pode crer.... faz tempo que não lia uma história sua.... mas essa ai eu já conhecia aiohsioahsioahoishaio... abraço!
também já conhecia essa...coloca algo novo...
i, qualé q é desse anônimo ai..... identifique-se pau na zorba!
Postar um comentário