Quando saí do trabalho aquela tarde, na Biblioteca Municipal de New York, eu estava realmente estafado. Meu trabalho fora o mesmo de todos os dias, descobrir o que a América anda lendo e comprar um exemplar, mas o que me cansava não era o excesso de trabalho, de forma alguma, o que me aborrecia na verdade era a minha rotina. Naquela tarde percebi que não fazia nada de novo a semanas, como que num clic notei que minha vida havia se tornado à prova de excitações, ou mesmo de surpresas.
O outono gélido com suas noites silenciosas de outubro tinha o poder de tranferir pra mim seu tédio e chatice com uma força irresistível. Peguei o metrô e fui direto pra casa, um minúsculo apartamento no Queens. Peguei as correspondências e subi as escadas abrindo-as, contas, contas, contas, propaganda, a New Yorker e uma carta, na hora pensei ser engano, já que eu não recebia uma carta desde que minha mãe faleceu dois anos atrás de férias em Frisco. Entrei em casa e dei de cara com a caixa de papelão ao lado da escrivaninha, suspirei, como sempre fazia ao fita-lo, eram os originais de todos os meus livros inacabados que permaneciam enclausurados naquela caixa desde que saí do Brooklin, cerca de 4 anos atrás. Não escrevi uma página desde que saí do Brooklin.
Sentei-me na minha poltrona e olhei a carta de novo, era do Ed Donkel, um velho amigo do meu pai que depois da morte do velho, quando eu tinha uns 13 anos, fez o que pode pra minimizar minha perda, um grande cara ele. Na verdade não nos falávamos desde que eu saí do Alabama, nas cartas minha mãe dizia que ele sempre perguntava de mim, até ir pra Denver poucos meses antes de ela morrer.
Na carta ele dizia que estava bem em Denver, perguntava se eu já tinha um daqueles carrões que aparecem nos intervalos do Super Bolw, diz que pegou meu endereço com minha mãe antes de sair do Alabama e me pede um favor. Eu tinha me esquecido de citar, ele sempre foi ótimo em pedir favores também. Ele me pede pra ver como anda a filha dele, a adorável Kate, pois ela estaria aqui ou em New Jersey e não vinha mais atendendo as ligações dele. O Big Eddie era um cara legal, merecia o esforço, mas a Kate merecia mais ainda, que garota adorável, fomos criados como irmãos até eu ir pra universidade. Ela sempre soube que não era bem fraternidade o que eu sentia por ela, e ela administrava isso muitíssimo bem, tanto que eu nunca consegui nada com ela, porém nunca me ofendi ou magoei com as doces negativas dela, realmente uma bela garota, de muito tato. Talvez Kate fosse o que faltava pra animar meus dias frios na costa leste, e talvez até as noites.
Eddie deixou algumas pistas na carta, como o último endereço que ele tinha, no Bronx, de onde as cartas estão voltando, o telefone que ela não atende mais, o nome completo, como se eu não soubesse e o n° do seguro social dela; acho que com isso eu poderia encontrar uma pessoa na maior cidade do ocidente, afinal, tudo o que acontecia na cidade acabava chegando na biblioteca, mais cedo ou mais tarde.
terça-feira, fevereiro 20, 2007
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