Por toda a minha vida tive ótimas oportunidades de ficar calado, e talvez na maioria delas eu tenha aproveitado a chance, sim, muitas vezes o fiz por uma questão de praticidade, é fácil ficar calado, nem sempre, mas a maioria das vezes é, como diz um amigo meu, depois eu chuto uns cachorros na rua e fica tudo bem. Fique claro que isso é uma metáfora, eu não chuto cachorros na rua.
Este foi um final de semana bem parado, estudei e li boa parte dele, nem compareci à Virada Cultural apesar de ter passado a noite de sábado fora... é, a noite de sábado.
Esperar pessoas demoradas é um costume que tenho de longa data, por isso não me incomoda mais, até porque sou um atrasão de marca maior e por isso perdi o direito a reclamar das demorâncias alheias. Depois de uma longa espera e um longo caminho fomos buscar minha senhora, muito bonita como de costume, até aí nada novo.
Foi mais ou menos a partir deste momento que a noite começou a ficar meio estranha, tratar damas com gentileza eu sei, diz-se que até bem quando me proponho a isto, porém me policio para não parecer um canastrão, um lorpa ou mesmo um boçal. A certa hora da noite percebi que seria eu talvez o único a me preocupar em não ser exagerado em gentilezas e babações que a certa intensidade acabam por se tornar dignas de asco. Sem problemas, enquanto meus ouvidos se ocupavam de com as buzinas e motores da rua isso passava batido, afinal, não era problema meu mesmo.
Enfim chega a última personalidade da noite, de cara me lembro de uma antiga colega de trabalho, Sofia Banuls, uma pessoa de grande ego e com um senso de humor um pouco estranho, uma grande pessoa com quem tive discussões memoráveis, infelizmente memoráveis. Só me restava torcer para que as semelhanças ficassem apenas na aparência.
Nossa última colega chega extremamente falante, muito animada sabe-se lá como que, talvez um dia todo regando o estômago seja um motivo razoável. Eu como não estava lá muito à vontade, um pouco pela sobriedade e um pouco pelas companhias que não conhecia muito bem, permanecia quieto, aproveitando todas as chances que me eram dadas para isso.
Foi então que comecei de fato a me decepcionar com a noite, depois de duas cervejas e de saber o nome de pelo menos 3 ex-parceiros da minha mais nova colega caí na besteira de querer conversar, afinal estava num bar, e entre “amigos”, me parecia muito natural, depois de umas duas ou três frases mais compostas, não mais que isso, três frases se bem me lembro, minha irmã já lança: “mão liga não, ele é molequinho mas ele entende algumas coisas.” Ok, minha irmã fala isso o tempo todo, apesar de não passar mais que 4 horas por semana comigo desde que eu tinha 14 anos, que é quando comecei a trabalhar ela fala isso, na frente de pessoas que eu não conheço, mas tudo bem, deve ser a caipirinha fazendo efeito.
Na seqüência meu mais novo cunhado lança para a amiga: “ele tem uma veia poética, blá, blá, blá...”. Parei de escrever poesias há quatro anos, tenho certeza absoluta que ele nunca leu nenhuma das minhas poesias, sou contista e o que eu falava no momento não tinha nada de poético ou artístico. Tudo bem, ele mal me conhece, podia estar apenas querendo ser simpático, o que não seria muito convincente depois daquele sorrisinho que ele deu depois daquela infeliz frase.
Sabe quando você toma um chute na canela! Me senti assim, minha irmã e meu mais novo “parente” desdenhando de mim pra uma estranha, que merda né, mas vamos continuar a noite, vou beber um pouco e ouvir os zumbidos da minha cabeça que é melhor, talvez quieto eu possa não ser mais destratado. Então começa o assunto preferido de 9 entre 10 noveleiros recentes, “casais.Diferença de idade.Sexo”. Acho que na CDU o número disso é “666.(falta do que fazer)”. Logo de início, ou mesmo antes desse assunto começar nota-se que nossa nova colega é, assim como minha irmã, chegada a um museu, o que é até compreensível. E a conversa vai se desenvolvendo até que minha muito sabia irmã lança uma de suas máximas favoritas: “a Paula é uma porca, já falei isso pra ela, ficar catando molequinho”. Àquele momento quis apenas me levantar e bater palmas para minha prezada irmã, não havia reação que pudesse ser mais adequada, pelo menos não me ocorre nenhuma. Uma pessoa que chama uma suposta “amiga” de porca por namorar seu próprio irmão!!!! E fala tudo isso de nariz em pé e sorriso no rosto, esquecendo-se que está ao lado de um canastrão gordo e adúltero, que precisam viver na mentira, às escondidas feito ratos, vivendo de restos em motéis de estrada e aínda vem chamar minha mulher de porca!!! Me assusta ver como drogados tem esse dom de inverter as coisas em seu favor, apenas porque seu público ouvinte é tão drogado ou cego quanto. E o homem ao lado dela, é um porco também ??? Afinal, se ela não percebeu ele tem quase o dobro da idade dela... afff...
Não tive como bater palmas, segundo eles por eu estaria alcoolizado, mas na verdade eu estava com meu queixo caído, e assim permaneci até o final da noite, sem reação.
Ter que ouvir que eu sou um molequinho, um garotinho, de uma pessoa que pela primeira vez na vida aos 28 anos está trabalhando a mais de um ano sem estar na empresa do pai, que tem ataques depressivos todo mês, talvez até por essa falta de costume com a labuta. Acho que ela se esquece que quando ela estava aos pontapés com nosso irmão, quem cuidava da nossa mãe que tem pressão alta era eu, que mesmo tendo sido dopado por toda a adolescência o molequinho publicou seu primeiro artigo aos 17 anos, entrou numa faculdade pública aos 18 e vive com um nível de independência financeira com o qual ela nunca sonhou. O molequinho só pode dizer mais uma coisa, seja feliz com sua nova família, mas se pra conviver com ela vou precisar agüentar esse tipo de cretinice eu fico por aqui, fora dessa Neverland imunda.
terça-feira, novembro 22, 2005
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2 comentários:
Caro amigo, às vezes falar depois cura raiva momentânea mas em certos casos crônicos o mais interessante é bater palmas mesmo.
Dê um chute na sua sensatez e não se reprima.
Beijim
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